
Como a obsessão em quantificar o desempenho humano ameaça negócios, medicina, educação, governo – e a qualidade de nossas vidas
Hoje, organizações de todos os tipos são regidas pela crença de que o caminho para o sucesso é quantificar o desempenho humano, divulgar os resultados e dividir as recompensas com base nos números. Mas, em nosso zelo em instilar o processo de avaliação com rigor científico, passamos de medir o desempenho a fixar-se na medição de si mesmo – e essa tirania das métricas agora ameaça a qualidade de nossas organizações e vidas. Neste livro breve, acessível e poderoso, Jerry Muller descobre as métricas de dano que estão causando e mostra como podemos começar a corrigir o problema. Repleto de exemplos de negócios, medicina, educação, governo e outros campos, o livro explica por que o pagamento pelo desempenho medido não funciona, por que os cartões de pontuação cirúrgicos podem aumentar as mortes e muito mais. Mas Muller também mostra que, quando usado como um complemento ao julgamento com base na experiência pessoal, as métricas podem ser benéficas, e ele inclui uma lista inestimável de quando e como usá-las. O resultado é um corretivo essencial para uma tendência prejudicial que afeta cada vez mais a todos.
Jerry Z. Muller é professor de história na Universidade Católica da América e autor de muitos livros, incluindo The Mind, the Market and Capitalism and the Jewish (Princeton).
📘 Introdução: The Argument
A introdução apresenta a tese central do livro: a ideia de que a obsessão por métricas em instituições públicas e privadas produziu efeitos adversos significativos. Muller argumenta que a fé na quantificação como solução universal é muitas vezes mal colocada. Em vez de aumentar a transparência e a responsabilidade, as métricas podem distorcer o comportamento, gerar incentivos perversos e empobrecer a compreensão do valor real. A narrativa dominante — “o que pode ser medido pode ser gerenciado” — ignora que muitos aspectos essenciais da vida institucional são qualitativos, complexos e não mensuráveis de forma significativa.
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Ponto central: A tirania das métricas reside na aplicação cega da quantificação a contextos em que ela distorce mais do que revela.
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Exemplo marcante: A referência à gestão por indicadores em universidades e hospitais, que gera “jogos de números” em vez de melhorias reais.
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Conexão com ExtraLibris: Fundamenta a escolha por curadorias qualitativas no ambiente figital, valorizando o julgamento crítico e a inteligência coletiva sobre rankings automáticos ou métricas de popularidade.
📘 Capítulo 1: The Argument in a Nutshell
O autor introduz o conceito de fixação métrica, que se tornou onipresente em diversas instituições. Ele denuncia a crença de que o que não pode ser medido não pode ser melhorado, alertando que essa lógica promove simplificações perigosas. A quantificação passa a ser vista como sinônimo de verdade e controle, substituindo o julgamento, o contexto e a experiência.
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Ponto central: A obsessão por medir tudo desloca a confiança no julgamento humano e gera distorções organizacionais.
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Exemplo marcante: A citação de Tom Peters — “What gets measured gets done” — é usada como emblema da lógica gerencial reducionista.
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Conexão com ExtraLibris: Reforça o papel da curadoria figital como contraponto à lógica instrumental. O valor de um livro, coleção ou estante não está apenas em sua “métrica de uso”, mas na relação simbólica, subjetiva e intelectual que desperta.
📘 Capítulo 2: Recurring Flaws
Muller apresenta uma lista das falhas recorrentes que acompanham o uso excessivo de métricas: medir apenas o que é mais fácil (não o mais relevante), priorizar entradas em vez de resultados, simplificar de maneira enganosa o que é complexo, e padronizar o que deveria ser interpretado. Ele também discute os efeitos colaterais dessas falhas, como manipulação de dados, perda de confiança institucional e desmotivação de profissionais criativos. A quantificação, quando mal aplicada, não apenas não resolve problemas — pode agravá-los.
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Ponto central: O uso inadequado de métricas frequentemente reduz a qualidade das decisões e obscurece o que deveria ser valorizado.
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Exemplo marcante: A crítica à padronização que degrada a qualidade da informação ao remover contexto, história e significado.
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Conexão com ExtraLibris: Alerta para os riscos de aplicar métricas simples ao mundo da leitura e da cultura. Fortalece a curadoria colaborativa como forma de respeitar a complexidade e a pluralidade dos repertórios.
📘 Capítulo 3: The Origins of Measuring and Paying for Performance
Este capítulo traça a origem da cultura métrica nos sistemas educacionais e na gestão pública da Inglaterra vitoriana, com a política de “payment by results”. A prática rapidamente se espalhou por outros contextos, passando da boa intenção à padronização excessiva. O autor mostra como esse modelo tratava a educação como produção industrial, com recompensas baseadas em quantificações simplificadas.
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Ponto central: A ideia de pagar por desempenho medido nasceu de tentativas de controle e eficiência, mas rapidamente produziu efeitos redutores.
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Exemplo marcante: A proposta de Robert Lowe no século XIX, de financiar escolas com base em resultados em testes padronizados.
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Conexão com ExtraLibris: Sustenta a crítica à aplicação de lógicas de produtividade em ambientes culturais. Nas estantes figitais, valorizar a complexidade e diversidade das expressões é essencial.
📘 Capítulo 4: Why Metrics Became So Popular
Muller explora as razões culturais e políticas por trás da popularização das métricas: desconfiança do julgamento, ideal de transparência, influência da gestão corporativa e a promessa de neutralidade. A obsessão por métricas é explicada como uma resposta à ansiedade social diante da incerteza.
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Ponto central: Métricas se tornaram populares como substitutos do julgamento, mas frequentemente agravam os problemas que prometem resolver.
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Exemplo marcante: A ideia de que, numa sociedade plural e desconfiada, medir parece mais confiável do que confiar.
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Conexão com ExtraLibris: Justifica o investimento em espaços de confiança e diálogo nas bibliotecas — onde a relação entre participante e curadoria substitui a lógica do controle métrico.
📘 Capítulo 5: Principals, Agents, and Motivation
Este capítulo analisa a teoria do agente-principal, segundo a qual gestores e empregados são suspeitos de agirem contra os interesses das instituições. A resposta foi monitoramento, métrica e incentivo financeiro. Muller critica essa lógica por corroer a motivação intrínseca e desvalorizar a confiança e o profissionalismo.
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Ponto central: A substituição da confiança por métricas cria relações tóxicas e reduz a autonomia profissional.
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Exemplo marcante: CEOs pagos com bônus atrelados ao preço das ações, o que encoraja manipulações de curto prazo.
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Conexão com ExtraLibris: Incentiva a criação de ambientes de curadoria baseados em confiança e reconhecimento mútuo, não em controle ou recompensa externa.
📘 Capítulo 6: Philosophical Critiques
O autor apresenta críticas à cultura métrica por pensadores como Oakeshott, Hayek e James C. Scott. Eles defendem a importância do conhecimento tácito e da experiência prática, contra a ilusão racionalista de que tudo pode ser sistematizado. A técnica, quando substitui a sabedoria, gera alienação e erro.
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Ponto central: Nem todo conhecimento pode ser formalizado ou medido — a prática humana exige julgamento sensível e contextual.
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Exemplo marcante: A analogia entre receitas de bolo e o saber de cozinhar — o conhecimento técnico não substitui a experiência.
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Conexão com ExtraLibris: A curadoria figital valoriza o repertório vivido, a construção coletiva e o saber contextual — contra a padronização vazia de sentido.
📘 Capítulo 7: Colleges and Universities
Muller mostra como o ensino superior foi invadido pela lógica métrica: produtividade acadêmica medida por publicações, avaliações docentes por questionários simplistas e financiamento por desempenho. O autor alerta para o risco de transformação da universidade em fábrica de dados, empobrecendo a qualidade do ensino e da pesquisa.
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Ponto central: Métricas no ensino superior promovem distorções acadêmicas e priorizam quantidade sobre qualidade.
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Exemplo marcante: A meta de aumentar o número de formandos levou a cursos mais fáceis e inflacionamento de notas.
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Conexão com ExtraLibris: Fortalece o papel das bibliotecas como espaços de resistência intelectual — locais de complexidade, experimentação e formação crítica, não de adestramento métrico.
📘 Capítulo 8: Schools
A análise recai sobre a educação básica nos EUA, com foco na política do No Child Left Behind. A ênfase em testes padronizados levou à perda da autonomia docente, exclusão de conteúdos não avaliáveis e distorções pedagógicas. Muller argumenta que as métricas ignoram contextos e transformam o ensino em treinamento para provas.
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Ponto central: A cultura da avaliação por testes transforma escolas em ambientes restritos e tecnocráticos.
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Exemplo marcante: Escolas que deixam de ensinar ciências ou artes porque só são avaliadas em leitura e matemática.
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Conexão com ExtraLibris: Reforça a proposta de curadorias transversais e multidimensionais, que valorizem o repertório amplo e significativo na formação de leitores.
📘 Capítulo 9: Medicine
Muller mostra que a medicina se tornou campo privilegiado de aplicação de métricas, com potencial para ganhos, mas também muitos perigos. Avaliações hospitalares, sistemas de bônus por desempenho e comparação pública entre médicos criam incentivos perversos, prejudicando o cuidado integral ao paciente.
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Ponto central: Métricas médicas podem gerar melhorias ou desencadear práticas antiéticas, dependendo do contexto e da finalidade.
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Exemplo marcante: Médicos que evitam pacientes de risco para manter bons indicadores de desempenho.
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Conexão com ExtraLibris: A saúde da cultura leitora também requer cuidado — a métrica de empréstimo, por si só, não revela a complexidade do engajamento. A curadoria deve zelar pelo acesso significativo, não apenas pelo número.
📘 Capítulo 10: Policing
A polícia adotou amplamente métricas, como o sistema CompStat, com efeitos positivos e negativos. Quando bem usadas, ajudam na alocação de recursos; mal utilizadas, incentivam manipulação de dados e práticas abusivas. Muller mostra que a métrica, ao invés de orientar justiça, pode incentivar opressão.
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Ponto central: Indicadores mal desenhados na segurança pública podem alimentar injustiças e decisões ineficazes.
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Exemplo marcante: Redução artificial dos índices de criminalidade para satisfazer metas.
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Conexão com ExtraLibris: A curadoria deve ser ferramenta de leitura social e sensível — não uma vitrine de “números bonitos”. O que não se vê também importa.
📘 Capítulo 11: The Military
Este capítulo mostra como o uso de métricas em campanhas militares, especialmente em guerras como as do Vietnã, Iraque e Afeganistão, levou a distorções fatais. O autor descreve como a contagem de corpos foi usada como métrica de sucesso, mesmo quando isso significava riscos desnecessários para soldados e dados manipulados por superiores. A lógica de performance numérica contaminou a estratégia, promovendo decisões que priorizavam indicadores visuais de sucesso em vez de resultados reais no campo.
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Ponto central: A dependência de métricas no contexto militar levou à ilusão de progresso e à tomada de decisões desastrosas.
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Exemplo marcante: A busca por cadáveres para contabilização em relatórios oficiais — uma tragédia causada pela lógica quantitativa sem crítica.
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Conexão com ExtraLibris: Um alerta poderoso contra a fetichização de indicadores. Mostra que mesmo em sistemas complexos, a leitura crítica do contexto é mais valiosa que a contagem cega de eventos.
📘 Capítulo 12: Business and Finance
Muller examina o setor privado, onde tradicionalmente se presume que a lógica de métricas funciona melhor. Ele mostra que isso é verdade apenas em ambientes repetitivos, mecânicos e de baixa complexidade. Em atividades que exigem criatividade, colaboração e julgamento ético, o pagamento por desempenho medido frequentemente falha, gerando sabotagem, competição predatória e desmotivação.
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Ponto central: A remuneração baseada em métricas só funciona em contextos muito específicos — fora deles, pode minar o valor real do trabalho.
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Exemplo marcante: Empresas onde vendedores evitam ajudar colegas para não perderem bônus de desempenho individual.
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Conexão com ExtraLibris: Reforça o valor de práticas colaborativas e culturais que não dependem de métricas individuais, mas sim de vínculos, repertórios comuns e propósitos compartilhados.
📘 Capítulo 13: Philanthropy and Foreign Aid
Organizações filantrópicas e de ajuda internacional adotaram métricas para responder à demanda por “transparência”. Mas Muller mostra que medir gastos administrativos e indicadores simples, como número de refeições distribuídas, esconde aspectos fundamentais como impacto real, envolvimento comunitário ou sustentabilidade.
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Ponto central: Métricas simplistas distorcem a avaliação do impacto social e promovem práticas meramente performáticas.
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Exemplo marcante: Organizações que minimizam gastos com equipe qualificada para “parecerem mais eficientes”.
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Conexão com ExtraLibris: Incentiva o reconhecimento da qualidade dos processos culturais, e não só dos produtos visíveis. Estantes também podem contar histórias invisíveis.
📘 Capítulo 14: When Transparency Is the Enemy of Performance
O autor questiona o dogma da transparência como valor absoluto. Em certos contextos — como diplomacia, política ou relações afetivas — a opacidade seletiva protege a eficácia e a intimidade. Tornar tudo visível pode inibir ações criativas e enfraquecer a confiança.
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Ponto central: Transparência total nem sempre favorece o bem comum — há momentos em que o segredo ou a privacidade são necessários.
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Exemplo marcante: Em negociações diplomáticas, expor tudo publicamente pode inviabilizar acordos sensíveis.
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Conexão com ExtraLibris: Estimula uma curadoria que respeite espaços de silêncio, cuidado e resistência simbólica — sem exigir que tudo se torne dado ou se preste a vitrine.
📘 Capítulo 15: Unintended but Predictable Negative Consequences
Aqui, Muller recapitula os efeitos colaterais recorrentes do uso excessivo de métricas: desvio de metas, priorização do curto prazo, manipulação de dados e desperdício de tempo dos profissionais. O capítulo serve como um alerta final para os perigos da tecnocracia sem crítica.
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Ponto central: As consequências indesejadas da fixação métrica são previsíveis — e evitáveis.
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Exemplo marcante: Redução da criatividade e cooperação entre profissionais por causa de métricas competitivas.
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Conexão com ExtraLibris: Reforça a dimensão ética da curadoria figital, que deve resistir à lógica do controle e cultivar práticas coletivas de sentido.
📘 Capítulo 16: When and How to Use Metrics
O capítulo final oferece um checklist prático: quando as métricas funcionam bem e quando devem ser evitadas. O autor não é contra métricas — mas contra seu uso automático e dogmático. Ele defende que sejam ferramentas complementares ao julgamento, nunca substitutas.
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Ponto central: Métricas devem ser usadas com consciência, em contextos apropriados, e sempre subordinadas ao bom senso.
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Exemplo marcante: Quando indicadores são usados apenas como diagnóstico interno e não como punição, tendem a funcionar melhor.
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Conexão com ExtraLibris: Orienta a criação de indicadores culturais e formativos, usados para apoiar a reflexão e não para classificar ou punir. A métrica deve servir ao repertório, não o contrário.