
A arquiteta e pesquisadora Neri Oxman, em seu ensaio The Age of Entanglement, propõe um modelo antidisciplinar para compreender o entrelaçamento dos domínios criativos — Ciência, Engenharia, Design e Arte. Em vez de delimitar fronteiras, sua cartografia revela que esses campos estão constantemente em diálogo, permitindo que projetos e indivíduos transitem entre eles, provoquem (r)evoluções e questionem o status quo.
Inspirada por essa visão entrelaçada, a proposta ExtraLibris se desenvolveu ao longo de um ciclo contínuo de pesquisa-ação, com experimentações em ambientes presenciais e digitais. Mais do que criar uma tecnologia social, o objetivo foi imaginar uma nova forma de mediação cultural: uma curadoria figital — capaz de articular experiências humanas, acervos diversos e interfaces colaborativas no mundo híbrido que habitamos.
🔍 Da Literacia Digital à Curadoria Figital
Enquanto as plataformas digitais tradicionais foram desenhadas com base em estudos de usuários e estruturas de controle algorítmico, a ExtraLibris propõe um novo centro gravitacional: a experiência humana na curadoria dos itens. O foco deixa de ser o consumo de informação e passa a ser a construção coletiva de sentido.
Em vez de padronizar o comportamento de quem interage com os acervos, a ExtraLibris capacita pessoas comuns como curadores figitais — indivíduos capazes de organizar, descrever e compartilhar suas experiências, memórias e repertórios a partir de múltiplos contextos.
As perguntas que orientaram essa transformação foram:
- Como posicionar a experiência humana como núcleo da curadoria?
- Como valorizar a diversidade de modos de organização dos acervos?
- Como entrelaçar o universo analógico e digital de forma sensível e cooperativa?
- Como oferecer uma alternativa à lógica de controle dos dados, promovendo expressão e autonomia?
🌉 A Curadoria como Ponte entre Mundos
A resposta a essas perguntas foi a formulação de uma curadoria figital: um modo de mediação cultural que atravessa os ambientes físicos e digitais, sem hierarquizá-los, mas buscando relações de reciprocidade.
A ExtraLibris não vê o digital como substituto do presencial, mas como extensão relacional dos espaços físicos. Suas ferramentas foram pensadas para operar simultaneamente em dois registros:
- o analógico, com estantes abertas, catálogos participativos e organização sensível dos itens;
- o digital, com coleções conectadas, metadados abertos e interfaces acessíveis para criação de exposições.
A curadoria figital permite que experiências culturais sejam vividas e ressignificadas em ambos os ambientes, ativando tanto a memória coletiva quanto a imaginação colaborativa.
🛠️ Participação, Mediação e Reencantamento Tecnológico
Ao contrário do modelo industrial do século XX — baseado em controle centralizado e padronização bibliográfica — a ExtraLibris propõe um design da participação: uma arquitetura de confiança que distribui a capacidade de organizar acervos entre todos os participantes.
Essa proposta rompe com os tecnopólios culturais que concentraram poder em poucas instituições, e aposta em uma mediação afetiva, em que a produção de conteúdos, os objetos culturais e as interfaces digitais se entrelaçam como superfícies de encontro.
Aqui, a tecnologia não é um fim, mas uma linguagem disponível para que as pessoas narrem o mundo a partir de suas perspectivas e pertenças. A ExtraLibris transforma o processo curatorial em um gesto de escuta e coautoria.
✨ Um Humanismo Figital para o Século XXI
Integrando memória participativa com inteligência colaborativa, a ExtraLibris promove uma cultura de criatividade, conversação e confiança. Sua proposta é inspirar novas gerações para uma prática curatorial aberta, acessível e sensível às transformações do nosso tempo.
Mais do que uma plataforma ou metodologia, a ExtraLibris é uma infraestrutura poética para a construção de mundos — uma curadoria figital voltada ao florescimento humano, capaz de reinventar a relação entre pessoas, acervos e espaços em uma era marcada pela interdependência e pela multiplicidade.