
O curso nasce da necessidade de uma nova prática profissional capaz de operar arranjos simbólicos, lugares e objetos em ecossistemas híbridos. Em um cenário dominado por sistemas rígidos de controle, a proposta rompe com a lógica classificatória tradicional e introduz um campo orientado à composição, onde o foco é criar arquiteturas sensíveis, abertas e relacionais.
O profissional formado neste curso será capaz de:
- ler territórios, objetos e práticas como elementos compositivos;
- projetar arquiteturas figitais baseadas na relação item → lugar;
- criar interfaces navegáveis que expressem vínculos, usos e histórias;
- produzir experiências estéticas e sociais que ampliem o sentido das coleções nos espaços;
- atuar criticamente frente a modelos centrados em automação e padronização.
Trata-se de um campo que une design, documentação, sensibilidade cultural e domínio técnico, formando profissionais aptos a compor ambientes de coleções figitais que revelem o valor dos interiores e das convivências humanas. É uma profissão de futuro — e de construção de mundos.
MATRIZ PRELIMINAR
FUNDAMENTOS DAS ARQUITETURAS DA COMPOSIÇÃO — 40h
Princípios da composição como alternativa a sistemas de controle. Noções de lugar, interioridade, camadas espaciais e arranjos simbólicos.
ONTOLOGIA DOS LUGARES E TAXONOMIA DOS INTERIORES — 40h
Hierarquias espaciais (objeto → prateleira → estante → sala → instituição). Modelagem relacional orientada ao lugar.
OBJETOS, MATERIAIS E SIGNIFICAÇÃO — 40h
Leitura cultural dos objetos. Dimensões simbólicas, materiais e narrativas. Composição de conjuntos e cenas.
CURADORIA FIGITAL E MEDIAÇÃO CRÍTICA — 60h
Integração entre ambientes físicos e digitais. Práticas de mediação sensível, criação de percursos e experiências.
DESIGN DE INTERFACES NAVEGÁVEIS — 60h
Protótipos de interfaces que representam lugares, vínculos e circuitos figitais. Visualidade como linguagem interpretativa.
PRODUÇÃO DE ARQUITETURAS FIGITAIS — 80h
Oficinas práticas de construção: estantes vivas, mapas de lugar, composições híbridas, experiências sensoriais.
DOCUMENTARIEDADE E SISTEMAS DE INSCRIÇÃO — 40h
Evidência, registro, narrativa e julgamento. Escrita, descrição e visualização como práticas compositivas.
PROJETO INTEGRADOR EM ARQUITETURAS DA COMPOSIÇÃO — 80h
Desenvolvimento de um ambiente figital completo, articulando objetos, lugares, visualidades e mediação.
REFERÊNCIAS
1) LUGAR, ESPAÇO E MEDIAÇÃO
Yi-Fu Tuan — Space and Place
Clássico absoluto para entender como espaço vira lugar a partir da experiência humana. Ajuda a fundamentar a ontologia dos interiores e a centralidade do “lugar” como eixo organizador da ExtraLibris.
Doreen Massey — For Space
Pensa o espaço como encontro de relações, não como contenção. Conecta diretamente com a ideia de composição: lugares como arranjos em fluxo, não estruturas fixas.
Michel de Certeau — A Invenção do Cotidiano
Mostra como as pessoas inventam usos, caminhos e desvios no dia a dia. Essencial para pensar arquiteturas abertas e interfaces que acolhem práticas reais, não modelos de controle.
Tim Ingold — Making / Lines
Aproxima fazer, caminhar e pensar. Excelente para embasar a noção de composição como gesto artesanal e relacional, algo central para o técnico que vai trabalhar com ambientes figitais.
2) MATERIALIDADE, OBJETOS E CULTURA
Arjun Appadurai — The Social Life of Things
Mostra como os objetos circulam, ganham valor e constroem relações. É base para pensar objetos como agentes compositivos, não como itens fixos.
Bill Brown — Thing Theory
Ajuda a deslocar o olhar do “objeto funcional” para a “coisa” que manifesta presença, afetos e mundos. Amplia o campo simbólico da curadoria figital.
Jane Bennett — Vibrant Matter
Propõe a vitalidade da matéria. Bom para pensar ambientes figitais como ecologias de objetos vivos, sensíveis e carregados de potência.
3) DESIGN, INTERFACES E VISUALIDADE
Johanna Drucker — Graphesis
Fundamental para compreender visualização como interpretação, não representação neutra. Fortalece a ideia de interfaces navegáveis como espaços críticos.
Klaus Krippendorff — The Semantic Turn
Mostra o design como construção de sentido, não de forma. Ajuda a embasar práticas de interfaces que expressam relações e lugares.
Richard Buchanan — “Wicked Problems in Design Thinking”
Traz a ideia de problemas indeterminados que exigem abordagem compositiva. Excelente para legitimar o caráter criativo e aberto das arquiteturas figitais.
Juhani Pallasmaa — The Eyes of the Skin
Explora a percepção tátil, sensorial e encarnada do espaço. Dá base estética para pensar experiências híbridas.
4) CIBERNÉTICA, SISTEMAS ABERTOS E COMPOSIÇÃO
Gregory Bateson — Steps to an Ecology of Mind
Mostra pensamento como interação e ecologia. É matriz para a noção de composição como processo vivo — e para romper com sistemas de controle.
Maturana & Varela — A Árvore do Conhecimento
Abre caminho para compreender sistemas autopoiéticos, essenciais para pensar ambientes figitais que se constroem pela convivência.
Ranulph Glanville — textos sobre cibernética de segunda ordem
Defende que todo sistema inclui o observador. Alinha com a postura reflexiva e crítica da Curadoria Figital.
5) ESTÉTICA, COMPOSIÇÃO E MUNDO COMUM
Jacques Rancière — A Partilha do Sensível
Ajuda a compreender como arranjos espaciais produzem visibilidades e invisibilidades. Base crítica para composição como ato político.
Vilém Flusser — O Mundo Codificado
Excelente para pensar gestos, superfícies, aparelhos e imagens técnicas. Fortalece o argumento figital do curso.
Donna Haraway — Staying with the Trouble
Incentiva modos de composição colaborativa, multiespécie e situada. Afina com a proposta de arquiteturas relacionais.
Gilles Deleuze — Mil Platôs / Cinema 2 / A Lógica da Sensação
Traz ferramentas poderosas para pensar composição, montagem, afetos, multiplicidades e formas de organizar sem hierarquia rígida.
6) CRÍTICA A MODELOS DE CONTROLE
Byung-Chul Han — Psicopolítica
Critica sistemas de vigilância, eficiência e autoexploração. Ajuda a marcar o contraste entre controle e composição.
James C. Scott — Seeing Like a State
Discute como sistemas de simplificação dominam populações. É a “antítese teórica” perfeita do campo que você está construindo.
Shoshana Zuboff — The Age of Surveillance Capitalism
Complementa com crítica ao extrativismo algorítmico. Reforça a necessidade de arquiteturas sensíveis, não expropriadoras.
7) ARQUIVO, DOCUMENTO E INSCRIÇÃO
Ronald E. Day — Documentarity
Já integra sua base, mas vale destacar: é o pilar para entender documentação como ato de julgamento, inscrição e criação de mundos.
Derrida — Mal de Arquivo
Importante para discutir poder, memória e autoridade nos modos de registrar. Ajuda a posicionar o curso fora da lógica do arquivo centralizador.
Wolfgang Ernst — Digital Memory and the Archive
Oferece leitura da temporalidade nas mídias. Bom para pensar circuitos figitais como inscrições múltiplas, não como armazenamento.