No decorrer da revisão de literatura foi possível identificar que tanto as correntes de pensamento da ciência aberta, quanto o campo da Ciência da Informação e gestão do conhecimento, são influenciados e acompanham as mudanças tecnológicas. A expectativa tanto das correntes de pensamento da ciência aberta, quanto da gestão do conhecimento é que na implementação de novas tecnologias deve haver preocupação não apenas com os sistemas de controle e recuperação da informação, mas também com o comportamento dos pesquisadores e profissionais frente ao novo cenário tecnológico.
Na tentativa de compreender a influência deste movimento foram analisados os conceitos de abertura e a consumerização da tecnologia da informação. Quanto à “abertura”, evidenciou-se que o seu conceito não está relacionado apenas às políticas de acesso à informação, mas historicamente à cultura de diversidade e respeito a distintas práticas e iniciativas. A consumerização das tecnologias de informação e comunicação (TICs) mostra que os pesquisadores passaram a adotar recursos tecnológicos por conta própria em detrimento aos investimentos que tradicionalmente eram realizados apenas pelos governos e instituições de pesquisa, estabelecendo políticas específicas para a utilização adequada destes recursos.
Buscou-se identificar se existe uma correspondência entre as correntes de pensamento da ciência aberta, a gestão do conhecimento e a incorporação dos pesquisadores das TICs para a realização de ações de engajamento e colaboração na web aberta. Para tanto, foi preciso planejar uma metodologia de análise adequada para estabelecer a relação entre a revisão de literatura e a pesquisa empírica sobre o uso da web pelos pesquisadores acadêmicos.
Para melhor compreender que ações são possíveis por parte dos pesquisadores acadêmicos identificou-se o ethos e as tradições de pesquisa acadêmica, além do mapeamento do ciclo de vida de pesquisa e das possíveis saídas e produtos digitais da ciência. Permitindo reconhecer que existem três fases em relação à incorporação da web pela academia. Em uma primeira fase a web foi utilizada apenas como um novo canal de comunicação para replicar as políticas e práticas tradicionais, ou seja, periódicos impressos transformaram-se em periódicos digitais, bibliotecas físicas em bibliotecas digitais e serviços que eram prestados apenas presencialmente passaram a não ter fronteiras, com o uso do e-mail. Em uma segunda fase, passou-se a repensar o uso da web para romper as limitações do mundo físico em relação ao acesso à informação e a documentação. O movimento do acesso aberto é um exemplo de que as TICs poderiam ser utilizadas pelas próprias instituições de pesquisa para a mediação do acesso à informação e documentação acadêmicas, sem a exclusiva mediação das editoras que cumpriram esta função com exclusividade no mundo físico. No terceiro momento, emergente, se compreende que para todo o ciclo de vida da pesquisa e não apenas o acesso à informação e documentação é possível incorporar as TICs na academia. O foco passa a ser, não apenas na informação, mas nas conexões dos pesquisadores entre si e o público leigo, como identificado nas correntes de pensamento da ciência aberta.
Enquanto para todo o ciclo de vida da pesquisa podem ser utilizadas TICs e com a sua consumerização, cada vez mais irão surgir novos produtos e serviços orientados diretamente para o uso dos pesquisadores. Distinto da definição de políticas institucionais voltadas para o processo tradicional de mediação da informação e documentação.
Nos resultados da pesquisa empírica foi possível identificar a existência deste cenário. Por um lado o movimento para o acesso aberto orientou suas ações para a definição de políticas institucionais de cima para baixo preocupadas, por exemplo, com a utilização de repositórios institucionais. Por outro lado, empresas privadas, focaram no desenvolvimento de serviços digitais centrados no consumidor final, neste caso, os pesquisadores acadêmicos em detrimento das instituições de pesquisa. O que gerou a criação de uma série de plataformas como as de redes sociais para pesquisadores, para escrita de artigos de forma colaborativa, e também da prestação de serviços por uma série de empresas privadas de assessoria aos pesquisadores para a criação de sites pessoais.
As ações mais evidentes identificadas pelos pesquisadores em relação ao uso dos seus sites pessoais está relacionada a estabelecer uma relação mais pessoal com o desejo de compartilhamento de sua produção acadêmica. No entanto, não foram identificados nas ações de engajamento e colaboração, por pesquisadores, atividades que representam as preocupações do campo da Ciência da Informação com a definição de critérios específicos para o efetivo acesso e recuperação da informação e documentação nos sites pessoais dos pesquisadores. O cenário é de uma completa falta de homogeneidade em relação à forma, tanto no compartilhamento de informações e documentação acadêmica, quanto no modo destes pesquisadores estabelecerem canais de relacionamento, seja com outros pesquisadores, seja em relação às ações de divulgação e educação em ciência na web aberta.
Pelo recorte da pesquisa, considerando o pequeno número de universidades analisadas dentro de um grande universo possível a ser pesquisado, e também em relação à quantidade de sites de pesquisadores analisados, não se pode considerar os resultados representativos de todas as possibilidades em relação à utilização de plataformas da web aberta para ações de pesquisadores.
No entanto, a partir dos sites pessoais de pesquisadores das instituições analisadas, em conjunto com a revisão de literatura sobre o tema, foi possível identificar o potencial para o desenvolvimento de novas pesquisas no campo da Ciência da Informação que sejam orientadas para a compreensão da utilização das TICs pelos próprios pesquisadores.
Pesquisas futuras podem ser feitas para comparar modelos de governança das tecnologias da informação e comunicação pela academia e a adesão dos pesquisadores em distintas plataformas de engajamento e colaboração digitais como, por exemplo, no caso de uso de periódicos em acesso aberto e repositórios institucionais providos pelas próprias instituições de pesquisa, e as estratégias adotadas por empresas privadas para adesão dos pesquisadores em suas soluções tecnológicas.
Outro item de pesquisa identificado é a necessidade de compreender se existem políticas em universidades, e quais delas são específicas para definição de critérios para que os pesquisadores utilizem plataformas na web para o engajamento e a colaboração acadêmicas.
Ou seja, se por um lado o movimento para o acesso aberto tem conquistado cada vez mais pesquisadores adeptos do uso de plataformas abertas, em oposição à publicação exclusiva em periódicos de acesso restrito, é importante tentar descobrir os motivos (talvez por falta de esclarecimento) pelos quais estes mesmos pesquisadores estão utilizando outras plataformas de compartilhamento providas por empresas privadas, em detrimento a soluções que poderiam ser providas por suas próprias instituições de pesquisa.
Ainda não é possível reconhecer novos critérios para o processo de fazer pesquisa envolvendo todo o ciclo de vida da pesquisa com a utilização de plataformas na web, de forma semelhante a que, no passado, critérios específicos foram adotados pela comunidade científica, hoje reconhecidos por toda esta comunidade, para a qualidade na pesquisa. A pesquisa e desenvolvimento destes critérios, além dos relacionados ao acesso à informação e documentação é uma oportunidade para o campo da Ciência da Informação, que já tem a vantagem de contar com a fundamentação teórica da gestão do conhecimento que reconhece que as conexões entre os pesquisadores acadêmicos, e não apenas o acesso à informação, é requisito fundamental para a construção de novos conhecimentos.