Robert Merton foi um pioneiro na pesquisa sobre o ethos da ciência. Influenciado pelas teorias sociais de Max Weber, que defendia que toda a ação social é feita pelo indivíduo, e não pela sociedade.
Merton (1996) identificou quatro imperativos institucionais inerentes ao ethos da ciência: 1 O universalismo, segundo o qual os trabalhos científicos devem seguir padrões universais de avaliação; 2 O comunismo, segundo o qual o conhecimento proporcionado pelo trabalho científico é um patrimônio comum da humanidade, e não propriedade privada de algum indivíduo; 3 O desinteresse, segundo o qual o único objetivo a curto prazo do trabalho científico é a ampliação do conhecimento humano; 4 O ceticismo organizado, segundo o qual o cientista deve ser privado de qualquer forma de preconceito e de conclusões precipitadas sobre seus trabalhos.
Estes quatro princípios, que operam de forma inter-relacionada, garantem o que Merton chama de ciência, que é aprovada pela sociedade, e que pode continuar progredindo.
Solla Price (1963) apresentou uma mudança histórica ocorrida na ciência. Antes, no século dezenove, no que ele chamou de little science, em que colégios invisíveis de pesquisadores amadores e entusiastas, interagiam de forma informal e por troca de correspondências. A partir do século vinte, a ciência passou a ser dominada por cientístas profissionais, e a informação científica passou a ser produzida em massa, divulgada com circulação em escala global, o que ele chamou de big science.
Leah Lievrouw (2010) fez um paralelo entre as possibilidades do fazer ciência no século vinte e um com a little science. Pois com a ciência aberta e a incorporação de plataformas da web aberta e as mídias sociais, os pesquisadores voltariam a interagir de forma informal, permitindo o envolvimento de amadores e entusiastas, para o compartilhamento de informação e produção de novos conhecimentos.
Um exemplo desta relação entre o acesso à informação científica na web aberta e o envolvimento de amadores entusiastas no processo de pesquisa é o famoso caso de Jack Andraka, um adolescente de 15 anos, que desenvolveu um método de detecção do câncer no pâncreas extremamente eficiente, em comparação às rudimentares técnicas tradicionais. Por esta pesquisa ele ganhou o primeiro lugar em um concurso de jovens pesquisadores. Mas isto só foi possível devido ao acesso às informações sobre pesquisadores, e projetos de pesquisa de forma aberta na web, para que ele pudesse entrar em contato com acadêmicos que puderam ajudá-lo em sua pesquisa.
Latour e Wooglar (1997) realizaram um estudo sobre a ciência em construção, evidenciando o trabalho dos cientistas como uma construção social, pois é influenciado tanto por questões internas da comunicação científica quanto por aspectos sociais externos.
Dentro desta perspectiva os autores apresentam que o “verdadeiro” e “falso” na ciência não são enunciados apenas vinculados ao bom uso da metodologia científica, mas vinculados a uma dinâmica social externa que dá validade ao conhecimento.
Outro argumento dos autores é que a construção do fato científico envolve o que chamaram de “ciclo de credibilidade” em que os cientistas realizam uma negociação entre os pares, utilizando várias estratégias para ter crédito pessoal. Para tanto, tornando-se dependes de um reinvestimento contínuo nestes recursos “alternativos” transformando uma prática alheia ao seu próprio objeto de pesquisa, como lugar comum no fazer ciência.
A importância da dinâmica social e como ela afeta os mecanismos de produção e validação do conhecimento é evidente quando são analisadas as críticas em relação às métricas e recursos como o de revisão por pares em modelos vinculados aos periódicos, além do modelo vigente que atribui credibilidade aos pesquisadores, que vem sendo criticados por atores do movimento da Ciência Aberta, propondo modelos alternativos de qualificação dos pesquisadores e validação da ciência.
O compromisso dos pesquisadores com o compartilhamento de informações na web aberta, de forma a permitir a reutilização e também a possibilidade de colaboração, tem relação direta tanto com o seu ethos, quanto com uma época em que a ciência estava mais próxima do público comum.