O artigo científico é a principal produção do trabalho de pesquisa acadêmico, e o movimento do acesso aberto é apenas a ponta do iceberg em relação às oportunidades que as novas práticas de gestão, padrões para tratamento da informação e adoção das novas tecnologias de comunicação e colaboração na web pelos pesquisadores acadêmicos, podem trazer para o avanço de práticas adotadas ao fazer ciência.
O movimento de acesso aberto, por exemplo, é o mais antigo representante do movimento para a ciência aberta, no entanto, o acesso aberto considera os produtos finais da produção acadêmica como o seu foco central, em detrimento de uma série de processos e produtos desenvolvidos durante o ciclo de vida da pesquisa, conforme a Figura 6 a seguir construída a partir do relatório de Whyte (2010):
Figura 6: O ciclo de vida da pesquisa
Fonte: Adaptada do relatório de Whyte e Pryor (2010)
A representação do ciclo de vida da pesquisa, conforme o relatório de Whyte e Pryor (2010), possibilita uma série de saídas no processo de pesquisa que se relacionam com diversos softwares e padrões distintos para colaboração, que serão identificados no decorrer deste estudo conforme o Quadro 1:
Quadro 1: Saídas do ciclo de vida de pesquisa
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CICLO DE VIDA |
SAÍDAS |
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Conceituando e relacionando-se |
Mensagens, publicações, perfis, bibliografias, resumos |
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Planejando e desenhando |
Rascunhos de propostas, planejamento de gestão de dados, documentação regulatória, protocolos da pesquisa |
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Coletando e analisando |
Dados derivados, metadados, apresentações, podcasts, posters, artigos para workshops |
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Documentando e descrevendo |
Notas de laboratório, memorandos de pesquisa, metadados do nível da pesquisa, informação suplementar |
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Publicando e reportando |
Artigos de eventos, artigos de periódicos, relatórios técnicos |
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Engajando e traduzindo |
Artigos gerais, sites na internet, briefings, exibições públicas, apresentações |
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Infraestrutura |
Softwares, bases de dados, repositórios, serviços web, modelos e padrões |
Fonte: Whyte e Pryor (2010), traduzido e adaptado pelo autor.
Um trabalho de pesquisa realizado por Thoma (2014) identificou como os recursos digitais são incorporados pelos pesquisadores para a disseminação do conhecimento acadêmico, realizando uma análise com foco no campo da medicina, conforme o Quadro 2, a seguir:
Quadro 2: Definições e exemplos de produtos digitais
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Produto Digital |
Definição |
Exemplo |
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Aplicativos (‘apps’) |
Um recurso transferido para um smartphone. |
iRash é um aplicativo que permite aos usuários pesquisar e aprender sobre várias erupções cutâneas (Deveau e Chilukuri 2012) |
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Blog |
Um site usado para publicar informações em mensagens periódicas que são principalmente baseadas em texto. |
Um blog foi criado para hospedar sinopses de sessões de “relatório da manhã” por médicos residentes (Bogoch et al. 2012) |
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Uma forma comum de mensagens eletrônicas direta entre um emissor e um ou mais destinatários. |
E-mail foi usado para enviar perguntas aos moradores para ensinar sobre a emergência na medicina pediátrica (Komoroski, 1998) |
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Video Instrucional |
Um vídeo demonstrando uma habilidade (ou seja, procedimento, conclusão do exame físico, ECG ou interpretação de raios-x, etc). |
Vídeo instrucional usado para ensinar drenagem torácica (Davis et al. 2012) |
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Produtos multimodais |
Um produto que consiste em vários produtos digitais. |
Um curso online sobre medicina baseada em evidências e avaliação crítica que usou podcasts de vídeo, um wiki e blogs. (Tam e Eastwood 2012) |
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Curso online |
Um currículo completo entregue usando várias modalidades on-line. Difere de produtos multi-modais na medida em que é organizado em um currículo formal. |
O “The Online Genetic Testing Curriculum” é um curso sobre as implicações éticas, legais e sociais de testagem e aconselhamento genético (Metcalf, Tanner, e Buchanan 2010) |
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Fórum de discussão online |
Um fórum on-line que permite aos usuários postar e responder aos outros participantes. |
Um fórum de discussão clínica para os alunos para descrever suas experiências em medicina rural (Baker, Eley e Lasserre, 2005) |
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Repositório online |
Um banco de dados on-line em que os recursos podem ser extraídos e adicionados. |
A repository of images of dermatologic findings in darker-skinned patients (Ezzedine et al. 2008) |
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Editor de texto online |
Um editor de texto publicado online. |
ODITEB1 (Open Distributed Text Book), um editor de texto online que descreve diagnósticos de tumores gastrointestinais (Horsch et al. 1998) |
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Periódico em acesso aberto |
Um periódico que só está disponível on-line e que publica artigos sem restrições de acesso. |
Vários periódicos on-line foram criados para diminuir custos e permitir a publicação em acesso aberto de conteúdos científicos (Davis e Walters 2011) |
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Podcast |
Gravações de áudio que são publicadas periodicamente com o intuito de disseminar o conhecimento. |
Surgery 101 podcasts são utilizados para ensinar princípios básicos para os clínicos em sua prática cirúrgica (White, Sharma, and Boora 2011) |
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Mecanismos de busca |
Mecanismos de busca utilizados para encontrar informação online. |
Google, Yahoo, Dogpile, Altavista, Metacrawlers and Ask foram utilizados para encontrar informação sobre crise renal esclerodermia (Akbar and Yacyshyn 2009) |
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Serious Game |
Um jogo online desenvolvido para ensinar os jogadores. |
eMedOffice, é um serious game para ensinar práticas de gestão.(Hannig et al. 2012) |
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Rede social |
Uma plataforma online que permite a comunicação síncrona e assíncrona entre os indivíduos. |
Twitter utilizado para conectar professores e estudantes (Forgie, Duff, and Ross 2013) |
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Podcast em video |
Videos com áudio incorporado que são publicados periodicamente. Diferem dos videos instrucionais pois são focados em transmitir informação ao invés de habilidades. |
Video podcasts utilizados para ensinar embriologia (Evans 2011) |
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Realidade virtual |
Um ambiente virtual utilizado para apresentar material de aprendizagem. |
Um simulador de realidade virtual foi utilizado para simular casos médicos (Alverson et al. 2008) |
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Aprendizagem baseada na web ou Aprendizagem assistida por computador |
Módulos educacionais que podem fazer uso de várias modalidades. A aprendizagem baseada em web é baseado em linha ao aprendizagem assistida por computador não é. Estas modalidades foram combinados devido à sobreposição substancial. |
Um módulo web baseado na gestão da dor em crianças. (Ameringer et al. 2012) Um aplicativo baseado em computador sobre a doença pulmonar ocupacional (Bresnitz, Gracely e Rubenstein 1992) |
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Website |
Uma página web on-line que não pode ser classificada como qualquer outro produto digital. |
Case Based Pediatrics é um site com uma lista de casos de ensino para estudantes de medicina e residentes (Falagas, Karveli, and Panos 2007) |
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Wiki |
Um site que pode ser abertamente editado por usuários finais. Utiliza crowd-sourcing como um método para melhorar e revisão do conteúdo. |
Um wiki para casos ortopédicos, que utiliza um placar para encorajar a participação (Ma et al. 2008) |
Fonte: Thoma et al (2014, não paginado), traduzido pelo autor.
Os autores também demonstraram que os produtos digitais podem ser classificados de acordo com os tipos de atividades acadêmicas conforme descritos por Boyer (1990), traçando um paralelo entre como as atividades são realizadas de forma tradicional e como podem ser realizadas em ambientes digitais, conforme demonstrado no Quadro 3:
Quadro 3: Recursos de ensino e aprendizagem e suas práticas acadêmicas
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Tipos de recursos de ensino e aprendizagem |
Exemplos de práticas acadêmicas tradicionais |
Exemplos de práticas acadêmicas em ambientes digitais |
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Recursos interativos |
Grupos pequenos |
Fórum de discussão online |
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Recursos de estudo independentes |
Trabalhos acadêmicos |
E-mail |
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Recursos audiovisuais |
Apresentações |
Podcasts Videos instrucionais |
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Recursos Point-of-care |
Guidebooks |
Aplicativos (‘apps’)
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Recursos escritos |
Textbook |
Online textbook |
Fonte: Thoma et al (2014, não paginado), traduzido e adaptado pelo autor.
Pode-se perceber, na literatura, que a emergência do termo ciência aberta e a multiplicidade de questões envolvidas e relacionadas ao seu uso, bem como a adoção do termo pelos autores, não costuma ser representativa de todas as possibilidades em relação ao conceito. Mas os textos tratam de problemáticas relacionadas a oportunidade de incorporação de novas ferramentas pelos pesquisadores. Da mesma forma que pelos profissionais da informação, que desenvolvem soluções para apoio ao processo de comunicação científica, seja em bibliotecas e/ou outras unidades de informação e, além destas, através de serviços de assessoria e consultoria informacionais.