
“Não devemos ver os itens como simples representações de categorias, mas como expressões em si, com capacidade de gerar sentido, afetar e mobilizar ação.”
Ronald Day usa o conceito de gêneros documentais (literatura, ciência, arte, jornalismo etc.) para mostrar como diferentes formas de inscrição: produzem realidades distintas (não só descrevem), têm padrões próprios de evidência, e expressam diferentes modos de ver e organizar o mundo.
Um poema não é só “um texto”, mas uma forma de documentar o mundo que: trabalha com ambiguidade, ativa sentimentos, rompe com categorias rígidas.
Um relatório técnico busca evidência clara, linguagem padronizada, autoridade.
Uma fotografia artística não é um “registro” neutro, mas uma inscrição que mobiliza estética, política e memória.
💡 Cada gênero é uma tecnologia de expressão e julgamento — o que Ronald Day chama de “documentariedade fraca”, ou seja, baseada na experiência, não em classificações rígidas.
Quando trazemos essas ideias para o universo da ExtraLibris, surgem conexões potentes:
1. Estantes como ambientes de expressão, não só de classificação
Uma estante pode deixar de ser um “repositório de livros de matemática” para se tornar uma curadoria potente, com livros, objetos, sons, experiências.
Cada item é um particular poderoso: um livro com anotações, um marcador feito por um aluno, uma faixa de áudio com uma leitura.
2. Curadorias por expressividade, não por disciplina
Em vez de organizar só por área (história, ciências), a curadoria pode se guiar por: temas sensíveis (“memória e território”), expressões (“vozes da infância”),
modos de afeto ou conflito (“resistências invisíveis”).
3. Participantes como sujeitos expressivos
A biblioteca deixa de ser um espaço de “consumo de informação” e se torna: um espaço de produção de repertório cultural, um ecossistema de inscrições expressivas, uma plataforma de encontros entre vozes singulares.
Exemplo prático de estante figital
Estante Figital: “Máquinas que Contam Histórias”
🎯 Objetivo:
Articular literatura e robótica como campos complementares de criação cultural e inventividade. Estimular nos participantes o desejo de imaginar, programar e narrar mundos possíveis, refletindo sobre a tecnologia como linguagem criativa.
📚 Livros selecionados
Título |
Autor |
Foco |
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Eu, Robô |
Isaac Asimov |
Ficção científica e as leis da robótica |
A invenção de Morel |
Adolfo Bioy Casares |
Máquina como criadora de mundos e afetos |
Frankenstein |
Mary Shelley |
A criação artificial e seus dilemas éticos |
Neuromancer |
William Gibson |
Cultura hacker e imaginário ciborgue |
Os autômatos |
E. T. A. Hoffmann |
Robôs como metáfora estética |
O futuro da mente |
Michio Kaku |
Reflexões científicas com linguagem acessível |
Criar Robôs com Arduino |
Marco Schwartz |
Introdução prática à robótica com microcontroladores |
🧠 Elementos figitais
📚 Estante física
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Livros com etiquetas coloridas indicando gêneros: ficção especulativa, clássicos tecnopoéticos, guia prático.
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Miniaturas de robôs construídos pelos participantes com base em personagens literários.
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Painéis com citações:
“Toda criação técnica é também criação poética.”
“E se um robô escrevesse um livro?”
💻 Interface digital (Google Sites, painel touchscreen ou QR code)
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Galeria com:
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Trechos lidos em voz sintética (com robô narrando!)
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Mapas mentais cruzando livros e tecnologias exploradas
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Linha do tempo: “A literatura sonha as máquinas antes que elas existam”
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Links para:
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Projetos simples de Arduino inspirados em livros.
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IA generativa criando poemas baseados em comandos de programação.
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🔧 Atividade proposta
Desafio figital:
“Escolha uma obra literária da estante e proponha um robô inspirado nela. Ele pode contar histórias, guardar segredos, compor músicas ou interagir com visitantes.”
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O projeto pode ser prototipado com:
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peças de LEGO,
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kits de Arduino,
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ou até desenhado no papel com instruções simuladas.
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Cada projeto ganha um QR code com:
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vídeo explicativo,
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sketch do Arduino,
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ou um microconto sobre o robô criado.
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🌀 Possibilidades de expansão
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Estante pode ser usada em feiras interdisciplinares, envolvendo literatura, tecnologia e artes.
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Pode integrar oficinas de escrita criativa + programação criativa.
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Ideal para turmas do ensino fundamental II, médio e técnico profissionalizante.