
A infraestrutura é fundamental para a ciência aberta, pois mudanças nos padrões tecnológicos impactam nas possibilidades de se fazer ciência na web. Duas características relacionadas à infraestrutura merecem atenção. Uma relacionada à computação distribuída, outra relacionada às plataformas de redes sociais e colaborativas.
2.3.3.1 A computação distribuída
A computação distribuída pode ser definida como uma computação descentralizada, realizada por dois ou mais computadores conectados em uma rede, com o objetivo de compartilhar e realizar tarefas em comum.
Um exemplo de computação distribuída são as redes Peer-to-peer popularizadas na internet a partir da década de 1990 com o uso de softwares como o Napster. Mas o mesmo conceito tem aplicações que servem de base para os diversos exemplos apresentados na corrente pública e da ciência cidadã, em que entusiastas contribuem com seus computadores para a ciência.
Um tema que tem sido defendido pelo movimento da ciência aberta é a necessidade de financiamento de modelos abertos de computação distribuída específicos para a pesquisa científica. Altunay (2011, p. 201) defende o Open Science Grid como “uma grande infra-estrutura computacional distribuída nos Estados Unidos, que suporta diversas aplicações científicas (…) para formar sistemas distribuídos de multi-domínio e integrados para a ciência”.
Hey em seu artigo sobre a importância de uma ciberinfraestrutura defende a relevância da computação distribuída da seguinte forma:
A ciência orientada a serviços tem o potencial para aumentar a produtividade científica individual e coletiva, através da criação de poderosas ferramentas de informação à disposição de todos, e assim permitindo a automação generalizada de análise de dados e computação. Embora não haja atualmente muito foco formar uma comunidade distribuída sobre o middleware de baixo nível, há desafios substanciais de investigação para cientistas da computação para desenvolver serviços de middleware inteligente de alto nível que realmente suportam as necessidades dos cientistas e lhes permitem construir rotineiramente ambientes virtuais seguros para proteger e gerenciar o verdadeiro dilúvio de dados científicos que serão gerados nos próximos anos. (HEY, 2005, p. 819)
Um projeto de computação distribuída cumpre a função prática de definir padrões que permitam a ligação entre plataformas distintas, aproximando a utilização dos mesmos recursos para ensino, pesquisa e construção de bibliotecas digitais e ontologias para recuperação da informação.
Hey (2005, p. 802) apresenta a configuração de um projeto de computação distribuída em que a universidade provê uma ciberinfraestrutura em que leva em consideração a integração entre uma série de ferramentas tecnológicas como: bibliotecas digitais, ambientes virtuais de aprendizagem, softwares para o registro de experiências digitais, periódicos acadêmicos, bases de dados abertos, etc. Mas que estão interligados em um ciclo contínuo de pesquisa e aprendizagem, acessíveis por computadores tanto de pesquisadores, quanto estudantes de graduação e pós-graduação, além dos cidadãos.
A mudança significativa em relação a adoção de um modelo de computação distribuída para a academia está no uso de modelos que tem se tornado referência pela indústria de tecnologia da informação (TICs) na esfera comercial na internet. Além de representar um olhar sobre a área de gestão da tecnologia da informação como provedora de serviços para toda a comunidade acadêmica.
2.3.3.2 Redes sociais e colaborativas
A computação distribuída relaciona-se com a infraestrutura de fundo para a implementação de aplicações, em sua maioria com finalidade computacional de dados e metadados para facilitar a análise e recuperação da informação. A outra face da dimensão da infraestrutura está relacionada com a disponibilização de soluções que permitam a formação de comunidades e redes sociais entre os pesquisadores e a comunidade acadêmica para atividades de ensino, pesquisa e extensão.
A proposta da orientação para redes sociais e colaborativas está na disponibilização de recursos da web 2.0 para a comunidade científica, com a criação de um ambiente social virtual de pesquisa que, de acordo com De Roure et al. (2008, p. 182), precisam cumprir quatro funções:
1) Facilitar o gerenciamento e compartilhamento de objetos de pesquisa. Estes podem ser quaisquer artefatos digitais que são utilizados e reutilizados por pesquisadores (por exemplo, métodos e dados).
2) Incentivos para que os pesquisadores tornem seus objetos de pesquisa disponíveis.
3) Ser aberto e extensível-o que significa que o software, ferramentas e serviços podem ser facilmente integrados.
4) Fornecer uma plataforma para pesquisa-ação.
Na dimensão da infraestrutura, a formação de redes sociais e colaborativas é vista com o objetivo da implementação de sistemas. O potencial de utilização de uso destas soluções em redes sociais e colaborativas pelos pesquisadores é abordado pelos autores que representam a dimensão pragmática.
Uma série de soluções na web possibilitam a formação de comunidades e redes colaborativas em pesquisa. Mas é importante ressaltar que existe uma distinção entre modelos abertos e fechados de software. O que a ciência aberta considera fundamental, é a implementação de soluções de infraestrutura, não apenas para uso dos pesquisadores, mas também, hospedadas no ambiente acadêmico.